Há 1 semana, era temporal. Daqueles que passam
varrendo seus pensamentos, mas não para longe. Em círculos. O vento era forte e
as nuvens, cinzas. Iam, levantavam poeira, cegavam meus olhos, me faziam virar
para um lado, olhar para o outro. E eu não podia dizer que rumo tomava. Só sabia que estava nele, bem no meio. E como era incômodo, eu só tinha vontade de me encolher. Em um movimento para baixo, de recolhimento. Para o chão, de
tristeza. Mas também sabia que levantaria a qualquer momento. Porque sabia que, quando
o temporal passasse, abriria um lindo dia de sol. E eu daria tanto valor pra
ele, que pareceria mais belo e intenso do que todos os anteriores.
Mas, espere. Acho que você também
não precisa ficar quieto esperando o temporal passar. Sim, você precisa saber o
que te faz sair dele. E eu soube. Eu senti um raio. Mas o raio era dentro de
mim. E ele foi ganhando força, muita força, até que eu não precisei decidir
mais nada. Simplesmente deixei ele, como fenômeno natural, se manifestar.
Sentei e comecei a escrever. Era isso. O temporal, as nuvens cinzas e o vento
sem sentido queriam apenas uma luz para que pegassem seu caminho e fossem
embora. A luz do raio que saía de dentro de mim.
O raio era a minha
expressão. Era dizer o que estava sentindo. Mas, antes disso, ouvir o que
estava lá dentro. Tudo isso aconteceu, e eu sentei e comecei a escrever. Não à
toa, mas com um objetivo. Sim, eu estava escrevendo também para mim, para o meu
maior objetivo era escrever para um alguém. Um alguém que me manteve calada por muito tempo.
3, 4 anos. Talvez 5. Não, não foi porque ele me obrigou a me calar – pelo contrário,
ele me pedia exaustivamente para que me comunicasse. Mas eu não conseguia. Era
tão mais fácil emudecer, abafar, e mudar de lugar à procura do sol.
Mas dessa vez eu consegui.
Escrevi com profundidade, intensidade e provocação (como ele mesmo, o
destinatário, dias depois comentou). Não recuei. Estava ainda um pouco mexida
com os ventos, envolta pelo misto de medo e valentia que uma tempestade costuma
provocar.
Eu escrevi. Disse o
que não dizia há 3, 4 anos. Talvez 5. E consegui dizer alguma coisa honesta. Alguma
coisa que fugia ao escudo, à superficialidade e ao que eu fantasiava como
ideal. Eu disse o que estava aqui dentro. Eu dei vazão ao raio sem moldá-lo,
porque de tão forte que era, não me deu essa chance.
Obviamente não consegui fugir totalmente de
um ou outro capricho em respeito à linguagem... e ao meu orgulho. À minha
vaidade. Mas fiquei feliz com o resultado. Quando ficou pronto, senti que conseguiu
carregar toda a força que tinha quando ainda estava dentro de mim. Eu consegui.
Então o céu
rapidamente se abriu. As nuvens foram embora, o cinza deu lugar a um azul
celeste. Eu não podia mais ouvir o vento que atormentava os meus ouvidos, e os
meus olhos já podiam se abrir despidos de preocupação. Atentos. Leves. Eu
estava feliz.
Quando a próxima tempestade
chegar, eu vou tentar fazer isso de novo. Como parte da natureza, vou aproveitar
a sua força, e deixar que ela também tempesteie o meu interior a ponto de ficar
insustentável mantê-lo só pra mim. Aí eu vou falar. Para alguém. E depois dar
as mãos para o temporal e dizer: nós conseguimos!